Já não és tu
quem vejo nesta miragem que teima em voltar,
quase sempre ao entardecer,
para me contemplar lá do alto
onde costumavas aparecer.
Já não és tu
quem pela calada da noite me espreita pela vidraça
projectando, nas paredes,
aquela sombra que me encantava.
Já não és tu
quem povoa a exiguidade da casa,
agora imersa nas ruínas em que a transformaste
com a tua partida,
mas é a mesma a brisa que se expande
tal braços que me envolvem
na forma de um abraço como outrora fazias.
Não, já não és tu
embora a memória teime em mostrar-me
uma imagem antiga onde pairas ainda,
após anos de ausência,
porque para mim eras definitivamente essa personagem,
que vi afastar-se devagar
e que pertence ainda a este lugar
que visito todas as tardes
e onde suspiro enquanto me parece ouvir um canto rouco.
Ouve,
sei que não encontrarei tão cedo
outro continente de eternidade como o que julguei ter
e onde ousei esperar percorrer contigo
a distância dos anos
e por isso choro,
sim choro,
mas um dia, numa carta,
te enviarei esse choro.
Chris Morris